A questão da arborização em Campinas e outros artigos – Guilherme Paes Leme Cordeiro

 

 

 

(Guilherme Paes Leme –

Graduando em Geologia e Geografia – Unicamp)

Recentes pesquisas apontam Campinas enquanto um dos municípios mais arborizados, sobretudo dentro do perímetro urbano, do estado de São Paulo. Quanto à arborização relacionada aos domicílios, o IBGE divulgou estudo (2012) pronunciando esta importante prática, principalmente dos municípios das macrorregiões (IBGE) do Sul e Sudeste, com exceção de Goiânia (GO).

Nesta mesma medida, a legislação municipal dispõe de disciplinas quanto ao plantio, replantio, poda e supervisão, desde junho de 2003. Sob este planejamento, enquadram-se as leis: nº11.571/nº8.744/nº9.184/nº9.970 e o decreto nº15.986. Além disso, a prefeitura tem como referência o Guia de Arborização Urbana de Campinas, bem como o Departamento de Parques e Jardins. Enxerga-se, portanto, uma tentativa embasada de gestão responsável, ainda que a fiscalização e o conhecimento popular encontrem-se desavisados.

No mérito da preocupação e da ciência, a Embrapa Monitoramento por Satélite firmou um termo de cooperação técnica junto à Prefeitura, em 2013, via Secretaria do Verde, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. Desta associação, o portal Árvores de Campinas procura expor o conteúdo verde do município na perspectiva do Georreferenciamento em uma plataforma tipo WebGis (acesso: http://mapas.cnpm.embrapa.br/arvores_campinas/). Claramente, um recurso de extrema importância para a gestão e mapeamento de áreas de plantio, áreas de potencial e identificação de lugares que necessitem de medidas públicas, além de outros usos.

Os moradores dos bairros centrais como Taquaral, Jardim Chapadão, Guanabara e Cambuí bem conhecem, de perto, a intensa participação que as árvores exercem sobre nosso cotidiano. A despeito da falácia do “desenvolvimento sustentável”, a prática consciente da conservação e uso adequado de uma arborização junto aos núcleos urbanos traz, invariavelmente, diversos benefícios. A prática das feiras artesanais comerciais, eventos de gastronomia, recreação, meditação e estudos jamais seriam possíveis, fosse o nosso descaso com a questão da arborização a mesma que ocorre em outras porções dentro de Campinas. A escassez de árvores em certos bairros é, também, fruto da reprodução de um modelo de urbanização feroz, sem grandes apelos da gestão pública e que supera a velocidade do próprio entendimento de administração responsável por parte da Prefeitura.

Não distante, os bosques dos Alemães, dos Italianos, dos Jequitibás, Parque Portugal, Parque Ecológico e Mata Santa Genebra, como menções honrosas, conservam, ainda que em escala bem reduzida, a vastidão deste patrimônio natural e histórico do Município, que já foi bastante amplo. Caberia pensar, portanto, que a relação das árvores, bosques, mudas e parques com a população do município traz, em seu bojo, um aspecto cultural do que é, talvez, ser um Campineiro. A questão do pertencimento e da identidade torna-se mais nítida neste apelo.

Finalmente, um Plano Municipal de Arborização Urbana, divulgado em 2013/2014, prevê o plantio de aproximadamente 350 mil mudas com prazo estimado de conclusão em 2018. Neste cenário, a proposta de uma cobertura vegetal abundante, ajustada ao ambiente e o tipo de solo deve promover uma consolidação da consciência acerca do tema. Esperados R$ 5 milhões de investimento por ano, o projeto também conta com a busca de especialização da sua própria equipe técnica.

Pedreira do Chapadão reserva riqueza em história da Terra

Pedreira do Chapadão para youtube

Na Praça Ulysses Guimarães, popularmente conhecida como Pedreira do Chapadão, aflora a chave para a investigação de um passado rico em histórias da Terra. Os enormes paredões acinzentados são, na verdade, peças fundamentais de um quebra-cabeça, que relaciona o continente Americano ao continente Africano.
Neste contexto, uma enorme porção do sul-sudeste brasileiro, sobretudo os estados de São Paulo e Paraná, expõem a magnífica Bacia Sedimentar do Paraná. Nesta depressão ovalada encontram-se formações de sedimentos glaciais, arenitos porosos, sotapos­tos por camadas de rochas vulcânicas, entre outras formações e feições, é claro. Sua importância, logo, está na exploração de recursos naturais, ao longo da bacia, como carvão, óleo e gás nos folhelhos, água subterrânea e agregados para construção civil, além, evidentemente, de sua contribuição na área acadêmica das Geociências. O Aquífero Guarani, também importante, perpassa pelos arenitos mais porosos.
Precisamente em Campinas, um olhar mais atento é capaz de observar que estas mesmas rochas e formações afloram em distintos locais do município. Os paredões do Jardim Garcia, Jardim Chapadão, Trecho da Rodovia Dom Pedro I e Avenida Guilherme Campos correspondem, na verdade, ao mesmo evento vulcano-tectônico. São os derrames vulcânicos basálticos da Formação Serra Geral, que por sua vez, sugerem que durante a separação dos continentes Americano e Africano, um desequilíbrio de pressão e distribuição de temperatura na crosta, em sua porção mais superficial, resultaram no extravasamento de lava, de forma ampla e extensa, sobre os arenitos que compunham o antigo deserto. De outra forma, estas mesmas formações podem ser estudadas em sua correspondente, a Bacia do Karoo, localizada na África do Sul. Isto mesmo, quando se visita a Pedreira do Chapadão, de certa forma, visita-se também um outro local correspondente na Terra.
Durante a década de 1970, a dinamitação parcial destas formações, principalmente no Jardim Chapadão e Jardim Garcia, abriu possibilidades para a construção de praças e parques, nos moldes da contemplação visual da natureza e do descanso. Uma visita à Pedreira do Chapadão pode ser, além de um passeio para fins de relaxamento, uma redescoberta da história do nosso próprio Planeta. Os fluxos de água que escorrem das paredes de rocha verticais são resultado da percolação do fluido por entre os planos de fratura. Onde há espaço nos arenitos e nos planos das rochas vulcânicas pode ocorrer o que comumente se co­nhece por minas, córregos e riachos. As feições naturais em Campinas contam mais do que geralmente imaginamos ao observá-las.
Como exemplo de contemplação, o município de Itu exibe o Parque Geológico do Varvito, uma iniciativa que promove a interação de estudantes de todas as idades e visitantes com a história de momentos importantes da Terra. Aqui, icnofósseis também podem ser estudados. A requalificação da Praça Ulysses Guimarães reabriu a possibilidade do entretenimento. Talvez a possibilidade de um Parque Geológico possa agregar ainda mais valor a estes espaços naturais, de uso público e de grande apreciação aos moradores locais e dos bairros vizinhos.

 

 

A rotina cansa

A velocidade das relações cotidianas supera nossa capacidade de controlá-

las. Essa fluidez do tempo, que na verdade é uma singela impressão, afeta todas as dimensões das

nossas vidas. Neste contexto de fuga de um dia a dia desenfreado, o circuito do turismo

gastronômico de Sousas e Joaquim Egídio ascende como uma das mais proveitosas fontes de

apreciação do tempo, no caso, o fim de semana. Justamente, um dos lados que deixamos passar,

sem muita atenção nesta correria, é a própria alimentação, inclusive nos momentos de reunião

familiar.

O distrito de Joaquim Egídio, homenagem ao marquês de três rios, é o espaço ótimo para

entender os conceitos de paisagem e região, embasados nas propostas de gastronomia e de

turismo. A princípio, fica evidente que a origem de muitos dos municípios de São Paulo é de

denominação cafeeira dos séculos anteriores. Os simbólicos casarões, sítios e fazendas, tecem um

fino pano do que foi este momento histórico. A proposta da paisagem, portanto, fundamenta suas

raízes no ideal da fazenda. De morros e vales recortados. De estradas sinuosas, balizadas por

afloramentos de solos avermelhados e rochas. De uma noite estrelada. De um bucolismo pacífico,

que contempla o verde das árvores, o azul do céu e o cinza da fumaça que sobe dos fogões a

Sob este olhar, a região de Sousas e Joaquim Egídio é a proposta de volta ao tempo com

ares de moderno. Aqui, o raio gourmetizador acertou em cheio. O que antes perecia, agora é fonte

de entretenimento, de bom paladar e de reunião da família. Restaurantes das mais variadas

intenções, compartilham dos mesmos ideais de uma gastronomia para fins de apreciação. Enfim,

trata-se de um espaço rústico, talhado nos moldes da cultura regional e dos processos

historiográficos, sobretudo do café, da cana e do algodão no sudeste brasileiro.

Outro dos motivos do sucesso desta região é a estrutura de interseções viárias. O acesso é

facilitado pelas SP-065 e SP-081. Para maior comodidade, a maior parte dos estabelecimentos

localiza-se no eixo de acesso principal dentro do distrito. Para os mais aventureiros, até mesmo

como parte do passeio, boa parte dos restaurantes requere uma jornada por entre estradas de

terra mais distantes, curvas tortuosas e morrotes. Exatamente, esta possibilidade de um fim de

semana tranquilo é o atrativo de muitas pessoas dos municípios mais populosos, como São Paulo

e da própria região metropolitana de Campinas.

Finalmente, o mosaico de sentidos entre espaço, cultura, paisagem, história é bastante

sensível nesta região. O contraste da “Cidade” e do “Campo” é pronunciado para cada momento

de contemplação da paisagem. Muito mais do que uma culinária típica tropeira, a possibilidade é

de uma experiência. Interessante, para este caso de região, é observar como os elementos

naturais constroem um alicerce para um quadro de tintas cheias de vida, porém suaves. O mesmo

não acontece para todas regiões que tiveram o vetor do crescimento da cultura rural do café, por

exemplo. Campinas conta, assim, com mais uma segura e válida forma de fruto cultural. Um

circuito que propulsiona um setor da economia relacionada ao turismo e ao entretenimento,

levando, ao mesmo tempo, possibilidade de expansão para além de suas fronteiras urbanas.

 

Campinas 241 anos de fundação – Perspectiva

 

Obra do renomado arquiteto Ramos de Azevedo, o Mercado Municipal de Campinas, em seu projeto arquitetônico pitoresco, foi inaugurado em 1908. A princípio, fora um armazém de estocagem projetado para abrigar os fluxos de produtos transportados pela Cia. Carril Funilense, com as diretrizes da Cia. Agrícola Funilense. Neste momento, muitos dos prédios e praças abraçavam o estilo arquitetônico de índole europeia, sobretudo de características ibéricas. Novas paisagens, estas, como resultado da efervescência de fusão de culturas, sobretudo europeias, em um espaço ainda pouco explorado.

Desde sua juventude, portanto, a Terra das Andorinhas apresentou vocação para atividades relacionadas ao ciclo do café. Ferrovia-Café-Economia. Não distante, a economia alavancada ao longo dos séculos XIX e início do XX foi presente de uma aristocracia progressista, que visava na economia cafeeira uma pujança para a região. Evidentemente, foram os inúmeros braços dos negros os responsáveis por esta força. As ruas do Café, do Algodão e do Açúcar são, na verdade, homenagens aos grandes homens que despenderam suas vidas na árdua tarefa do campo. Por outro lado, as principais vias de Campinas elevam ao status de heróis as personagens Benjamin Constant, Quintino Bocaiúva, Campos Salles, entre muitos outros. Quantas destas ruas carregam nomes de escravos? Quantas ruas do Brasil carregam nomes das massas? Realmente importa o nome da rua? Talvez. Torna-se clara esta simbologia quando da perspectiva dos processos de gentrificação e alienação dos espaços públicos.

Deste cenário, surgem, também, os primeiros arranjos comerciais do Município. Os primeiros bairros, por sua vez, organizam-se tutorados por uma divisão, ainda que parcial, entre classes sociais e funções. Pode-se pontuar, então, que Campinas apresenta em suas lógicas espaciais um resíduo histórico. Muito embora não existam restrições rígidas de circulação para os espaços urbanos públicos, a função do espaço, em grande medida, condiciona as pessoas que transitam ali. Não é diferente com a circulação dos cidadãos nos espaços de comércio e cultura de consumo. Os shoppings, cujo conceito é importado dos EUA, são, para uma parcela campineira, os grandes centros culturais que o município pode oferecer.

Sob esta luz, o arranjo espacial urbano de Campinas é o fruto da interação entre os processos históricos dos séculos anteriores com a economia moderna. Os mais de 240 anos do município, portanto, contemplam uma experiência histórica que é refletida em inúmeros municípios do Estado de São Paulo. Ao mesmo tempo, as particularidades da presença de grandes personagens e da prática de atividades culturais tradicionais regionais fazem daqui, até hoje, um centro vivo de memórias dos séculos XIX e XX. Campinas é futuro promissor de um passado repleto de passagens históricas únicas.

 

Campinas cresce em todos os sentidos
Campinas cresce. Pelos céus, a urbanização mais recente. São incontáveis os fluxos aéreos. Dos mais distantes cantos do Brasil e, agora, de alguns lugares do mundo, afluem riquezas para nossa região. O complexo aeroportuário de Campinas, o Viracopos, é o nó que une os fios das grandes metrópoles com a cidade das Andorinhas.
Construído na década de 1960, o aeroporto acompanhou um período de intensa industrialização no estado de São Paulo, bem como a transformação de certas paisagens bucólicas em meios técnicos e científicos. Localiza-se, segundo a lógica da concentração industrial, na periferia próxima, o que confere importância na sua relação com as estas atividades. Justamente, apresenta uma das maiores participações no setor aduaneiro e de transporte de cargas. Sob esta mesma perspectiva, a proximidade com o centro de Campinas (18 km) e o centro de São Paulo (90 km) faz desta estrutura urbana um imenso recurso estratégico para o poder público da região.
Durante a última década, a movimentação de passageiros teve incremento significativo. As estatísticas apontam, em 2004, cerca de 700 mil passageiros, número que, em 2014, aumentou mais de 10 vezes, cerca de 10 milhões de passageiros. Neste mesmo cenário, Viracopos abriga os núcleos da Azul linhas aéreas e TAM Cargo. As obras, por sua vez, acompanham um plano de investimentos em fases, os quais pretendem expandir e modernizar o complexo. O planejamento é para um desenvolvimento que seja contemplado até 2040.
Evidentemente, este crescimento exponencial não é o mesmo demonstrado pelas regiões próximas. O Jardim Adhemar de Barros, Jardim Planalto de Viracopos e Jardim Pedro de Viracopos, títulos de exemplo, encontram-se na condição de bairros periféricos de Campinas, exaltando os mesmos problemas decorrentes dos grandes processos de urbanização. Fala-se, portanto, em concentração do capital e de recursos no Complexo de Viracopos.
Desta forma, é possível entender a expansão de Viracopos segundo a lógica espacial, também da recente urbanização brasileira. O município experimenta, portanto, um crescimento
em diversos sentidos.
O Complexo Viracopos irá além das ampliações e mo­dernização do parque aeroportuário. Em seu entorno serão construídos hotéis, centros de compras, prédios comerciais e novas malhas viárias. Tão logo esta expansão, se ordenada, pode alavancar o grande potencial de Campinas, enquanto um centro de
de intensos fluxos comerciais nacionais e internacionais.
Viracopos, exatamente, é a possibilidade da transformação e confirmação da pujança econômica da nossa região.

Guilherme Paes Leme Cordeiro
Graduando em Geologia 
e Geografia – Unicamp
guilhermepaesleme@gmail.com

 

Metrópole – Campinas pronuncia sua importância no cenário urbano brasileiro

Campinas pronuncia sua importância no cenário urbano brasileiro.

Neste sentido, o município tem apresentado grandes projetos de crescimento espacial e

econômico. Ao mesmo tempo, os tecnopólos, próximos ao distrito de Barão Geraldo,

apontam para a pujança da região, na pesquisa e desenvolvimento e no conhecimento

científico. As universidades e faculdades, da mesma forma, convivem neste universo.

Os planos diretores da prefeitura, modificados ao longo dos anos, são

ferramentas de organização deste crescimento. Neste contexto, fica clara a existência

de projetos e obras de adequação do centro da cidade. Dentre eles, a requalificação da

Avenida Francisco Glicério, com influência direta na estética visual e na acessibilidade

na área de revitalização.

O momento que Campinas experimenta é especial. Evidentemente, os

problemas de saúde, transporte e educação pública podem persistir. No entanto, é

importante tomar ciência dos grandes processos de urbanização que Campinas reflete

nesta década. Observa-se o despertar de um centro aeroviário com o avanço de redes

e fluxos nacionais, o aeroporto de Viracopos. A região do Ouro Verde, por sua vez,

caminha para uma maior autonomia política. A região metropolitana de Campinas, não

distante, exalta as relações econômicas e políticas entre os municípios vizinhos.

Se, por um lado, as vias transbordam de veículos em certos horários, os centros

de compras tornam-se lotados, e os centros de serviço provocam filas intermináveis,

os sinais de crescimento da cidade ficam claros. Ao passo em que a estrutura e

aparelhos urbanos, nem sempre, tem capacidade de atender a esta demanda. Mais

uma vez, a urgência das requalificações, dos planos diretores e da adequação do

espaço urbano a este momento que Campinas está participando, é vital.

Finalmente, fala-se em metropolização de Campinas. Estes processos que a

população experimenta, tem reflexos diretos em seu cotidiano. A cultura urbana,

igualmente, desponta como a expressão artística deste estilo de vida. Os parques

respiram vida aos finais de semana. Os shoppings, grandes centros comerciais, por

hora, atraem o consumo de cidades vizinhas. A transformação da cidade cafeeira do

século XVIII, portanto, tem como resultado uma metrópole em plena ascendência.

Somos parte, fazemos, assim, história.

Guilherme Paes Leme Cordeiro

Graduando em Geologia e Geografia pela UNICAMP

 

CRISE HÍDRICA III

Nos artigos anteriores, consideramos a influência antrópica na escassez da

água. Neste último, daremos atenção aos fenômenos naturais. A história evolutiva do

nosso planeta é guia para entendermos o momento em que vivemos. Sob esta

perspectiva, colocadas às controvérsias científicas e de opinião pública, devemos nos

ater às possíveis causas deste delicado panorama dos recursos hídricos sob um

espectro múltiplo de pontos de vista.

A cronologia da Terra retrata uma evolução de um planeta ao longo de

aproximadamente 4,56 bilhões de anos. O Universo no qual estamos, por sua vez, data

em torno de 14 bilhões de anos. Nosso planeta experimentou fogo, poeira, extinções

em massa e constante remodelamento das feições terrestres. Ao mesmo passo, as

condições ambientais nem sempre foram as mesmas de hoje. A cobertura dos solos e

os vegetais somente tomaram forma em determinado período da escala geológica de

tempo. Neste mesmo contexto, as próprias condições atmosféricas e hidrológicas

foram modificadas. A dinâmica dos oceanos, que igualmente regula os ciclos

hidrológicos, correntes de ar e os atributos físico-químicos da atmosfera, é rica e

complexa. Por fim, o registro da vida é distante no tempo em 3,8 bilhões de anos.

Realmente vivemos uma crise hídrica planetária?

Será que devemos despejar a culpa deste cenário a uma bandeira azul e

amarela ou a uma estrelinha vermelha? Quem sabe, talvez, ao desmatamento das

florestas tropicais em troca de plantações de soja e cana no Brasil? Quem disse que a

espécie humana é tão importante assim para o planeta? Um dos princípios da vida é o

ciclo. Não é diferente com a nossa espécie, tampouco com a história da Terra. Este

corpo celeste já provou de outros aquecimentos globais, de outras atmosferas e de

outros momentos de escassez em água doce. As evidências destes passados tão

diferentes estão nas próprias rochas e nas relações de como elas estão organizadas no

espaço. Um quebra cabeça complexo, objeto do árduo trabalho científico do Geólogo.

Evidentemente, a gestão pública destes recursos hídricos é questionável. É

provável que seja válida a atitude de armazenar água de modo seguro. No entanto, o

princípio essencial é que não podemos ignorar a história dos fenômenos naturais

terrestres. Também, a fins evitar o vespeiro de histerias de opinião pública, talvez seja

um equívoco definir uma única causa para a falta de água em sua torneira.

É VOCÊ ou a TERRA que vive esta crise hídrica?

Guilherme Paes Leme Cordeiro
Graduando em Geologia 
e Geografia – Unicamp
guilhermepaesleme@gmail.com

 

 

CRISE HÍDRICA II

A crise hídrica não está superada. As recentes quedas d’água do mês de fevereiro, evidentemente, nos proporcionam breve alívio. No entanto, os níveis dos sistemas hídricos do estado de São Paulo e sul de Minas Gerais distam largamente de seus padrões naturais. Neste sentido, torna-se possível estabelecer uma relação direta entre este déficit e a superexploração das bacias hidrográficas. Ao mesmo passo, é pronunciada a escassez dos recursos hídricos face aos grandes adensamentos urbanos e seus fenômenos antropogênicos, tema deste artigo.

As feições naturais da região onde Campinas se desenvolveu sofreram intensa modificação. Cortes, aterros, edificações e pavimentação prevalecem nos centros urbanos. Sob esta perspectiva, a recarga das zonas de saturação e dos rios é submetida às condições impostas pela cobertura antropogênica. Em dias de chuva, procure observar o comportamento da água. A impermeabilização superficial e dos solos exalta a velocidade do escoamento superficial. Formam-se rios nas canaletas, cachoeiras nas bocas-de-lobo, ocorre a superelevação nos canais de menor altimetria, visto na Avenida Orosimbo Maia, sobretudo nos rios, tal como no rio Piracicaba, próximo.

Uma grande chuva pode provocar efeitos catastróficos. As porções sul e sudoeste do nosso município são altamente impermeabilizadas e adensadas. Desta maneira, os enormes volumes das chuvas de verão escoarão rapidamente, sendo o armazenamento prejudicado. Embora uma das regiões de recarga dos nossos aquíferos seja próxima a Ribeirão Preto, a baixa saturação em água dos solos e rochas porosas em Campinas dificulta tudo o que depende da água subterrânea, inclusive o abastecimento. Os fluxos velozes, por sua vez, potencializam a erosão de canais, encostas e das próprias vias pavimentadas.

Não distante, medidas emergenciais adotadas pela população e gestão pública promovem a exploração irracional dos recursos hídricos. Poços artesianos, tubulações, desvios de canal e piscinões provavelmente irão provocar transtornos, vista a escassez de água. Os poços podem sofrer aumento do custo de bombeamento e inundações adjacentes por água de menor qualidade. Rios podem ser drenados pelo rebaixamento hidráulico do aquífero. O terreno pode subsidir ou colapsar. Um quadro delicado e não temporário, ainda que a constância de chuvas do verão suspire um relaxamento em nós. Erramos nas últimas décadas. Insistiremos na derrota?

Guilherme Paes Leme Cordeiro
Graduando em Geologia 
e Geografia – Unicamp
guilhermepaesleme@gmail.com

Março 2015

 

Crise Hídrica I

Apenas 2% da água do planeta Terra pode ser consumida. O Brasil, vasto território, detém fundamental parcela dos recursos hídricos mundiais. Na região de Campinas, por sua vez, a água jaz sob a forma de um imenso lençol hidrodinâmico em superfície e subsuperfície, o Sistema Aquífero Guarani (SAG). Neste sentido, o sistema de aquíferos, compartilhado por outros países América do Sul, desempenha suma importância no ciclo hidrológico e no excedente hídrico, que há décadas superexploramos.

Sob a forma principal de zonas de saturação em água nas rochas porosas ou nos espaços entre estas, armazena as chuvas e regula os cursos d’água, ao passo em que concentra enorme reserva hídrica subterrânea, estratégica, em ampla parte do Brasil. São inúmeras suas funções naturais. Sob este pensamento, um aquífero é um arranjo espacial das feições terrestres naturais, tais que permitam que a água seja armazenada e movimentada, tanto em superfície, quanto de maneira subterrânea.

Frente às crises de escassez, cada vez mais recorrentes nos verões, surgem os questionamentos. Culpam-se os governos e órgãos responsáveis pelo abastecimento e tratamento da água. São feitas tentativas tardias de economizar o pouco que resta. Do ponto de vista técnico, os baixos volumes registrados são frutos de um déficit, provocado tanto pela ineficiência das chuvas como pelo alto consumo do recurso, agravados pela recorrência nos últimos anos. Superexploração.  Ainda neste cenário, as obras são insuficientes. Enquanto o sistema encontra-se sobrecarregado, novas obras corretivas são realizadas na esperança de não esvaziar os sistemas de água da região.

No futuro, será possível enfrentar com mais serenidade estes momentos críticos? As concessões devem ser administradas com ênfase na prevenção da escassez, que possivelmente deve se instalar de forma frequente. Trata-se, portanto, de um esforço coletivo entre governo, órgãos que administram o fornecimento da água, indústrias, agricultores e cidadãos. Enquanto isto, continuamos a superexplorar, como se tem feito durante os últimos 100 anos, os aquíferos da região, cerca de 75% de seu volume total.

Na prática, evitar o desperdício doméstico é válido, evidentemente. No entanto, o maior consumo de água, sabemos, é na agropecuária e na indústria. Crescimento exponencial. Ademais, cultivar formas de armazenamento seguro das chuvas é uma atitude inteligente, visando evitar um futuro incerto. Enfim, praticar é um começo! Manter a consciência de um uso eficaz do nosso mais precioso bem é o que devemos buscar.

 

Guilherme Paes Leme Cordeiro
Graduado e Geografia – Unicamp
guilhermepaesleme@gmail.com

 

 

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