A Sociedade Campineira de Educação e Instrução (SCEI), mantenedora do Hospital PUC-Campinas e PUC-Campinas, incorpora e assume a gestão da Maternidade de Campinas. Por unanimidade, os associados ao Hospital Maternidade de Campinas aprovaram, em duas assembleias realizadas na noite da última segunda-feira, 27 de maio, a aquisição vinculativa da instituição pela Sociedade Campineira de Educação e Instrução, mantenedora do Hospital PUC-Campinas e da PUC-Campinas, assumindo os ativos, os passivos e a gestão da instituição. A iniciativa visa a obtenção de expressiva redução do endividamento dentro do processo de Recuperação Judicial. O centenário hospital Maternidade de Campinas continuará no mesmo prédio, atendendo tanto os pacientes SUS – Sistema Único de Saúde – quanto os dos convênios já firmados.
A assembleia também elegeu os novos dirigentes, que já assumiram os cargos de presidente, Dom João Inácio Müller, Arcebispo Metropolitano de Campinas e grão-chanceler da PUC-Campinas, de vice-presidente, Monsenhor José Eduardo Meschiatti, e de secretária geral, a advogada Dra. Edna Nyara Couto Cappa. Para o Conselho Fiscal foram eleitos Antonio Luiz Franco e Eduard Prancic, tendo Wagner Roberto Ivani como suplente. A incorporação será consolidada quando do término do processo de Recuperação Judicial, enfrentado há quase dois anos pela Maternidade de Campinas (desde agosto/2022).
O novo presidente do Hospital Maternidade de Campinas, Dom João Inácio Muller, explicou que a aquisição da instituição é, antes de tudo, uma missão para a SCEI por ter o HMC os mesmos preceitos de filantropia de prestar assistência à saúde de mães pobres e seus bebês. Assim como o Hospital PUC-Campinas, que tem 84% de seus atendimentos realizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), também o HMC presta assistência a 60% de seus pacientes por meio da saúde pública.
“Faremos uma gestão exclusiva e a reestruturação dos ativos e dos passivos, utilizando todos os meios legais admissíveis, mas respeitando os preceitos e a história do Hospital Maternidade de Campinas. Nossa intenção é manter todas as especialidades médicas já oferecidas e acrescentar outras, gradativamente. Não pretendemos realizaralterações imediatas, sendo que elas apenas ocorrerão após serem criteriosamente avaliadas. Amanutenção do hospital, em sua essência, está garantida na assistência e no enfrentamento das dívidas da Instituição que ainda não puderam ser quitadas na recuperação judicial. A SCEI assumirá a Maternidade e implantará um novo modelo de gestão, respeitando todos os preceitos da Recuperação Judicial”, explicou aos associados.
Situação financeira
O Hospital Maternidade de Campinas vem enfrentando problemas financeiros desde que perdeu a concessão do uso da exploração do Terminal Rodoviário de Campinas, o que impactou fortemente as suas receitas. Ao longo dos anos, a situação foi se agravando com a defasagem da tabela SUS, com repasses insuficientes para cobrir os custos e, em 2020, ainda mais, com as consequências da pandemia da covid-19, que provocou a suspensão de todas as cirurgias eletivas, assim como grandes aumentos nos preços dos insumos e equipamentos. “Todos conhecem o atendimento humanista do Hospital PUC-Campinas e incorporar a Maternidade de Campinas é uma forma de crescermos.E fazemos isso pensando nas mães e crianças que aqui venham a nascer. Pretendemos trabalhar de forma colegiada, ouvindo as pessoas, unindo as pessoas e os seus potenciais”, explica monsenhor José Eduardo Meschiatti. Para o ex-presidente da Maternidade de Campinas, Marcos Miele, a incorporação da instituição pela SCEI é um alívio. “O sucesso dessa transação é importante para a cidade de Campinas, pois vai manter a Maternidade viva. E, esperamos que seja, no mínimo, por mais 100 anos.”
História
A Maternidade de Campinas nasceu em 12 de outubro de 1913 (coincidentemente, Dia de Nossa Senhora Aparecida – a mãe de Jesus – e, também, o Dia das Crianças) pela necessidade de se ter um hospital que atendesse às mães carentes. Foi o primeiro hospital de Campinas com condições de oferecer às mulheres o apoio e o cuidado necessários no momento do parto. Quando da sua criação, era definida como “instituição inteiramente de beneficência, destinada a prestar gratuitamente socorro, tratamento e assistência a gestantes e parturientes reconhecidamente pobres”. São 111 anos de portas abertas, 24 horas ininterruptas por dia, atendendo a gestantes, mães e bebês de Campinas e da região. Trata-se da maior maternidade do interior do Brasil. A instituição filantrópica foi fundada com a missão de atender às mães carentes muito antes da existência do Sistema Único de Saúde (SUS). Nos seus mais de cem anos de história, a Maternidade de Campinas foi responsável por trazer ao mundo mais de 600 mil de bebês, que representam mais da metade de população de Campinas.
Os primeiros prédios, que funcionam desde 1916 e 1965, respectivamente, foram construídos com a ajuda da população, motivada pela vontade de ter uma maternidade de referência na cidade. O primeiro funcionou na Avenida Andrade Neves. A decisão de construir uma nova edificação aconteceu em 1950, mas a nova Maternidade, na Avenida Orosimbo Maia, somente foi inaugurada 15 anos depois (em 19 de dezembro de 1965). Desde então, já sofreu várias reformas e ampliações.Trata-se da maior Maternidade do interior do Brasil em número de partos: 9 mil por ano (750 por mês, cerca de 25 por dia) e, aproximadamente, 1.900 internações por mês (22.800 por ano), dos quais 60% pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A quantidade de partos mensais representa, praticamente, a metade de todos os nascimentos ocorridos na RMC – Região Metropolitana de Campinas. São 30 leitos na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) Neonatal, dos quais 18 são oferecidos para a rede pública. O hospital registra, em média, 930 atendimentos em UTI Neonatal por ano. É o hospital com o maior número de leitos de UTIs e de UCIs de Campinas para o atendimento público. A instituição consagra-se por apresentar as menores taxas de infecção hospitalar. Há alguns anos, a Maternidade transformou-se em Hospital para diversificar e ampliar o seu atendimento para realizar outras cirurgias (plásticas, bariátricas, oncológicas, urológicas e de otorrino, entre outras), medida necessária para manter a filantropia em ginecologia e obstetrícia, a fim de compor suas receitas.