Casa de Saúde de Campinas enfrenta a quarta epidemia em sua história centenária

Febre amarela em 1889 e 1896 e gripe espanhola em 1918 antecederam a atual pandemia de Covid-19

Vocação para a saúde é tão antiga quanto a idade da construção, inicialmente preparada para ser centro de acolhimento e escola para imigrantes italianos

Parte do jardim da frente do Vera Cruz Casa de Saúde           Foto: Matheus Campos

O Centro Dedicado de Atenção ao Novo Coronavírus instalado no Vera Cruz Casa de Saúde desde o início da pandemia, em março de 2020, voltou a atenção da Região Metropolitana de Campinas para o imponente prédio localizado no Centro da cidade. Centenas de profissionais de jaleco, aventais, luvas e máscaras transitam pelos corredores de ladrilhos conservados no piso, paredes espessas e pé direito alto perseguindo o melhor atendimento a ser oferecido neste que é um dos momentos mais tensos do planeta.

O edifício construído no final do século 19 – projetado por Samuele Malfatti, pai da famosa pintora Anita Malfatti, com apoio do abalizado arquiteto Ramos de Azevedo – já presenciou tamanha inquietação outras três vezes: duas epidemias seguidas de febre amarela – em 1889 e 1896 – e uma de gripe espanhola em 1918.

A vocação para a saúde é tão antiga quanto a idade da construção. Nos primórdios do prédio, quando funcionava como colégio e centro de acolhimento de imigrantes italianos, o então Circolo Italiani, num ato de solidariedade daquela comunidade, foi adaptado em uma enfermaria improvisada para acolher vítimas da febre amarela, que incidiu na cidade pela primeira vez no ano de 1889.

A epidemia da mesma doença retorna em 1896 e, de acordo com fontes históricas, a região central de Campinas mereceu grande atenção da inspetoria sanitária, que desencadeou ações de “desinfecção” (atendimento hospitalar, remoção de doentes e enterros), coordenadas pelo Dr. Emílio Ribas, hoje nome de importante rua no Cambuí.

A febre amarela foi erradicada da cidade em 1904 e a suntuosa obra de arte arquitetônica continuou a funcionar como escola. Mas, em outubro de 1918, Campinas foi atingida fortemente pela gripe espanhola, transformando novamente o edifício em um local para assistência aos enfermos.

O uso do prédio para enfrentar as três epidemias alertou dois importantes líderes de Campinas na ocasião – Sr. Irineo Checchia e Dr. Mário Gatti – à predestinação do edifício. Assim, a cidade deu início às obras definitivas para a implantação de um hospital no local para assumir os cuidados da população e em 1920 foram encerradas as atividades como escola.
A diretoria da associação italiana passou então a comprar terrenos ao redor e em 1924 foram inauguradas as duas alas superiores do hospital.

Durante o período de perseguições aos radicados no Brasil por ocasião da II Guerra Mundial e o endurecimento da legislação brasileira aos estrangeiros empreendedores, o Circolo Italiani Uniti perdeu o seu nome em 1942 pela necessidade de se nacionalizar. Como consequência, o grande empreendimento passou então a se chamar Casa de Saúde Campinas.

Essa trajetória de socorro tão disponível e presente quando mais foi preciso e atuações importantes e de vanguarda – como por exemplo, sendo o primeiro hospital do interior de São Paulo a realizar cirurgias de transplante renal – tornaram a Casa de Saúde um hospital referência na região.

Capela interna do hospital Vera Cruz Casa de Saúde              Foto: Matheus Campos

 

 

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