Um dos piores males do ser humano é envelhecer sem dignidade. Isso é mostrado com assustadora crueza no filme grego “Suntan”. Dirigido por Argyris Papadimitropoulos, revela como as facetas mais medíocres da alma humana vêm à tona quando não é possível lidar com as próprias frustrações.
Um médico quarentão é designado para atuar como clínico geral numa paradisíaca ilha grega. Ali conhece uma jovem com metade se sua idade que sofreu um pequeno acidente de moto. A sua obsessão por ela o leva a se envolver nas mais variadas situações, sedo a mais melancólica drogá-la na intenção de estuprá-la.
O filme consegue lidar com essa narrativa sem fazer um julgamento sumário. O doutor acumula frustações pessoais e profissionais que o conduzem a um caminho que o tira do eixo da medicina e da dignidade. A sua falta de compreensão do universo mental dos jovens com quem está convivendo acentua inclusive a incapacidade perceptiva dele perante o que ocorre.
O médico não consegue ver o papel ridículo que faz como jovem apaixonado perante o grupo que acompanha a moça e perante a comunidade da qual deveria cuidar. Torna-se assim um trágico personagem, repleto de falhas e desvios em suas ações e pensamentos. A cena final indica um possível, mas não garantido, caminho para a redenção.
Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. |