Que nos importa?

É incrível como tem tanta gente vivendo sozinha, longe de tudo e de todos. Foram esquecidos pela sociedade e não recebem visita alguma. Onde estão os amigos que os acolhiam, elogiavam, criticavam, bajulavam? Onde estão também os filhos, netos, familiares? A todo instante estou encontrando pessoas que reclamam falta de atenção, uma presença amiga ou uma visita mesmo que seja por quinze minutos.
E isso não acontece com idosos ou doentes apenas, mas também com pai ou mãe, gente casada e solteira, padres e bispos. Pense um pouco na sua família, sua vizi­nhança, membros de sua comunidade ou de seu clube. Encontrará gente que você não vê há muito tempo e nem percebe sua ausência. Alguns até cruzam com você na rua e até respondem ao cumprimento “tudo bem!”, mas enfrentam um monstro interior todos os dias, no quarto de sua casa, sem que você perceba.
Padre Marcelo Rossi comentou sua forte depressão, Padre Fábio de Melo assumiu que estava sofrendo de síndrome do pânico e o ator Eduardo Sterblitch confessou que passou por transtornos psicológicos. Jesus também não teve vida diferente: foi para o Jardim das Oliveiras se confortar com o Pai, antevendo todo sofrimento por que iria passar… e os apóstolos dormiram. Dormimos todos nós envolvidos com nossas atividades.
Hoje em dia são mais de 18 mi­lhões de pessoas que convivem com transtornos de ansiedade, vivem sozinhas e isoladas em seus quartos, enfrentando problemas os mais diversos, e nem todos o demonstram, chorando. É o mundo do individualismo, do egoísmo e da correria desenfreada.
É o tempo da tecnologia que coloca o mundo nas mãos das pessoas, através de celulares e smartphones, mas, ao mesmo tempo, leva as pessoas para fora e para longe de si mesmas. Visite um hospital e verá pessoas de cabeça baixa, com os olhos fixos nos celulares, e distantes dos doentes que estão visitando.
E, o pior é que muitos estão num caminho sem volta! Chegam aos seus limites psicológicos e não aguentam mais. Seguem o caminho de Judas Iscariotes que expressa seu arrependimento, jogando as moedas no templo, e simultaneamente ouvindo as palavras dos anciãos e príncipes dos sacerdotes: “Que nos importa? Isto é lá contigo!” (Mt ,27,4).
A Organização Mundial da Saúde alerta que a taxa de suicídios a cada 100 mil habitantes aumentou 7% no Brasil, ao contrário do índice mundial, que caiu 9,8%. Ou seja, cerca de 800 mil pessoas acabam com suas vidas todos os anos no mundo, o que equivale a uma morte a cada 40 segundos.
Como cristãos, precisamos fazer a diferença, afinal fizemos a opção por seguir Jesus Cristo: telefone para as pessoas que vivem na solidão, envie uma mensagem pelas redes sociais, abrace quem você visita, ofereça seus ouvidos para alguém que precisa desabafar… e nunca diga que tudo é bobagem, que é falta de Deus. Tenha empatia!
Cuidemos de nós mesmos e cuidemos uns dos outros, praticando o que São Paulo exorta aos cristãos na carta aos Romanos 12, 9-20.

Côn. Luiz Carlos Magalhães – Jornalista e Pároco Emérito da Paróquia Cristo Rei Campinas

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